quinta-feira, 21 de março de 2013

~a minha versão 'todas as terras deviam ser assim'~



Ora em jeito de desafio vou falar um pouco da minha terra. Coincidência de tema ou não, ultimamente tenho sentido saudades da minha terra. E por vezes perco-me em memórias da minha velha vila (que já não o é fisicamente á uns anos), sempre tão presente em mim quanto uma terra que me viu nascer e crescer o pode ser. Minha.

Pelas ruas da minha terra vêem-se desfilar ilustres nomes Lusitanos... apresentam-se a rua Luís de Camões, a Marquês de Pombal, a Zeca Afonso e Rua Eça de Queirós. Tem becos que atalham caminhos, que desconvidam visitantes mas deixam-se percorrer calorosamente a quem há tanto os conhece.
Tem uma igreja Matriz num largo do 'Espirito Santo' tão atravancado de carros estacionados. Tem um parque infantil, um coreto no Jardim, e uma Junta de freguesia colada com uma biblioteca. A minha terra tem um carácter típico e umas fachadas antigas, tem construções novas que vão tomando o lugar devoluto de ruínas.

Não tem ‘O’ café central, mas ali todos conhecem os cafés 'centrais'... o 'Barrete Saloio', o ‘Arco Íris', e mesmo aquele velho 'Sol do Adro' que já quase ninguém frequenta, mas que continua ali despercebido, com a patroa á porta a ver todos passar e a inteirar-se das novidades. Ainda mantém a típica tasca...pequenas adegas escondidas. 
Tem uma paragem de autocarros para o vai e vem de Lisboa. Apinhada de gente de manhã cedo, deserta á tarde. Tem um típico quiosque mesmo no coração da vila, que rivaliza com a papelaria em frente, a que toda a gente vai picar o ponto, coberto de revistas, jornais, boa disposição. 

Tem aquele supermercado que está sempre a mudar de nome mas para todos ali continua e continuará sempre a ter o nome de origem aquando fundado por aqueles 10 sócios há muitas gerações passadas... Tem aquele mini mercado que cheira a mofo. Tem a praça aos sábados de manhã e a feira às quartas-feiras. 
Tem a escola velha e a escola nova. Tem um mocho que vive em cima ‘daquele’ prédio. Tem aquele bêbado que insulta toda a gente. Tem a costureira que faz tudo á medida, tem o sapateiro que arranja quase tudo, tem a drogaria que vende de tudo um pouco. Tem cusquices. Tem costumes,tem ritmos de vida. Tem gerações.

A minha terra tem a Banda que toca em certas ocasiões, tem o campo de futebol e uma bomba de gasolina, uma Sociedade Recreativa que promove bailaricos e festas de Carnaval. No Verão tem a festa da Padroeira a céu aberto no Largo, tem palcos com músicos pimba e carrinhos de choque amontoados num descampado próximo. Tem velhotes que dançam bem agarradinhos e fazem os mais novos ter vergonha de não saberem dançar assim. Tem um desfile etnográfico e festeja-se o Vinho! Brinca-se ao 'Pão por Deus' com insistentes tocares de campainha, tem procissão das velas que deixa a roupa cheia de pingos de parafina. Tem um Senhor Prior que as beatas veneram e beijam a mão.

A minha terra tem aqueles queques com raspa de laranja, ligeiramente salgados da manteiga que unta a forminha. Todos os dias o padeiro passa a apitar na sua carrinha, uma vez de manhã e outra ao final da tarde. Traz pão acabado de fazer e aqueles bolinhos de amêndoa secos. O amoladeiro aparece de vez em quando, e á quinta-feira vem a música do Family Frost. O gás é entregue de porta a porta por um senhor que grita ‘Gás!’, reconhecendo-se, sempre, a sua presença antes mesmo de se anunciar, pelos ruídos de ferro a bater em ferro que saltam da traseira da camioneta.
A minha vila tem o que eu chamo os momentos Kit-Kat (faz uma pausa) quando as ruas deixam de ser para carros e são tomadas por ovelhas e cabritos.

Na minha terra todas as 20h são marcadas pela sirene dos Bombeiros num tom crescente com uivos de cães á mistura, e cada hora do dia é cantada pelo sino da Igreja.
A minha terra tem campos e montes que não acabam e que promovem muito espaço para aventuras e joelhos raspados. Tem vinhas, que limitadas/configuradas pelo terreno parecem ao longe desenhar formas no monte, como aquele coração imperfeito que eu teimava ver em criança. Ás vezes ainda lá está! Tem moinhos abandonados que contrastam lado a lado com as novas ventoinhas eólicas.

A minha terra tem a casa da avó, tem a casa da tia, tem a casa dos vizinhos, tem a casa dos amigos.

Tem pessoas que não conheço, mas todos me conhecem pelo parentesco, por ser filha de quem sou, mas sobretudo por ser a neta do 'TocóBicho'. Cada pessoa tem sempre uma história, uma memória para contar. Tem rostos conhecidos em cada canto, em cada passeio, em cada passadeira. 
A minha terra tem família, a minha terra é família. A minha terra, apesar de ser calma, tem muita vida lá dentro.

 foto de mil quatrocentos e troca o passo!...não se assustem, já evoluiu um pouco mais!

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